"Mercado espera novo corte nos juros, o que reduzirá ganho de fundo DI, mas analistas não indicam a poupança por enquanto"
Se tudo ocorrer como economistas e o mercado preveem, o Banco Central (BC) decidirá por mais um corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic, atualmente em 10,5% ao ano) na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que começa amanhã e termina quarta-feira. Com isso, as aplicações mais conservadoras, de renda fixa, terão retorno mais modesto. Os primeiros atingidos serão os fundos DI, que têm 1,8 milhão de cotistas, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Além de se acostumar com retorno menor, os investidores se deparam com notícias sobre as intenções do governo de mexer na poupança e nesses fundos. Na dúvida, é hora de aguardar, dizem especialistas.
O retorno menor na renda fixa não é algo exatamente ruim para a economia. Segundo economistas e especialistas em finanças, isso é o normal na maioria dos países, com juros básicos menores. Para ganhar mais, é preciso correr mais riscos ou aplicar por mais tempo.
— O investidor há tanto tempo acostumado a ganhar quieto vai ter que se mexer e correr um pouco mais de risco — diz Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos e professor do Ibmec/RJ, para quem os fundos multimercados poderão ser uma alternativa.
Para o administrador de investimentos Fábio Colombo, será preciso diversificar investimentos, aplicando parcela em opções arriscadas, como ações.
BC já cortou a Selic quatro vezes desde agosto
A queda na rentabilidade das aplicações de renda fixa começou quando o BC inverteu inesperadamente a tendência e passou a cortar a Selic, em agosto passado. Desde então, foram quatro cortes, sempre de 0,5 ponto percentual.
O juro básico fixado pelo BC baliza o retorno oferecido pelos títulos públicos do governo e define o CDI (taxa média de empréstimos entre bancos), referência das aplicações de renda fixa. Por isso, quando a Selic cai, a renda fixa (fundos DI, de renda fixa e CDBs dos bancos) rende menos.
Esse movimento, normal na maioria das economias, tem uma peculiaridade no Brasil: a caderneta de poupança. Como a aplicação, também de baixíssimo risco, tem uma remuneração fixa, o retorno dos fundos DI vai se aproximando do da poupança, à proporção que a Selic cai. Ou seja, em breve poderá ser mais vantajoso aplicar na caderneta do que num fundo DI.
Segundo simulações feitas no site Comdinheiro.com.br, isso já começará a ser realidade com a Selic a 10%, nos investimentos a curto prazo. Nesse caso, uma aplicação de R$ 10 mil por seis meses num fundo DI (com taxa de administração de 2%) perderá para a poupança por R$ 7 (veja mais no quadro ao lado). Hoje, com a Selic a 10,5%, a diferença é de R$ 12, mas a favor dos fundos.
O “empate técnico” entre fundos DI e poupança ocorre primeiro para os investimentos de curto prazo por causa do Imposto de Renda (IR), cobrado apenas sobre os primeiros. A alíquota do IR é definida numa tabela regressiva — quanto maior o prazo, menor o imposto —, de 22,5% a 15%.
A comparação entre as duas modalidades de investimento ainda depende de outra coisa: a taxa de administração dos fundos. Quanto menor é o CDI, referência para os fundos DI, maior é o peso da taxa de administração. Fundos com taxas elevadas, acima de 2%, corroem o retorno.
Cálculos do professor Bolívar Godinho, do Laboratório de Finanças (LabFin) da Fundação Instituto de Administração (FIA) da USP, mostram o impacto das taxas. Com os juros básicos a 10%, para ganhar da poupança em aplicações de seis meses, o fundo DI não pode ter taxa de administração acima de 1,04%. Atualmente, esse limite é de 1,49%. E a situação vai piorar: com a Selic a 9,5%, a taxa de administração não poderá exceder 0,58% — valor difícil de encontrar nos fundos para pequenos investidores.
— O investidor terá que pesquisar bastante as taxas de administração. Negociar com o gerente da conta ou até mesmo trocar de banco devem ser opções a considerar — diz Godinho.
Governo estuda mudar poupança e fundos
Antes que a poupança, mais tradicional e popular aplicação do brasileiro, seja inundada por recursos de investidores em busca de maior retorno e fugindo de fundos com remuneração ruim, o governo deverá fazer algo. Estão em estudo no Ministério da Fazenda mudanças na regra de remuneração da caderneta.
Segundo técnicos do governo, a mudança só valeria para depósitos futuros, preservando as aplicações atuais. O novo modelo, ainda em versão preliminar, já estaria com a presidente Dilma Rousseff e prevê que o retorno da caderneta seja variável, em linha com as taxas praticadas no mercado.
Por outro lado, a equipe econômica também começou a estudar medidas para aumentar os tributos sobre aplicações atreladas à Selic, como os fundos DI. O objetivo é reduzir a quantidade de títulos públicos com essa indexação, para dar mais eficiência à queda dos juros, permitindo o barateamento do crédito no país.
Para Espírito Santo, da Way Investimentos, é melhor aguardar. Como nada está oficialmente definido, não é hora de optar por uma ou outra aplicação por causa das possíveis mudanças.
O empresário aposentado Benjamim Pracownik, de perfil conservador, está esperando para ver. Por enquanto, ele está satisfeito com suas aplicações em renda fixa. Pracownik aplica em fundos de renda fixa e no Tesouro Direto, programa do governo para venda de títulos públicos pela internet.
— Até agora, não senti tanta diferença com a queda dos juros — diz Pracownik.
O aposentado investe no Tesouro Direto há cerca de dois anos, quando se desfez dos investimentos em ações. A aplicação foi indicada pela corretora e ele vê o programa como alternativa para ganhar um pouco além da poupança.
Fonte: Globo.com
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