Se suas dívidas são maiores do que seu salário, não fique aflito. Você é um dos muitos brasileiros superendividados que agora podem contar com a ajuda do serviço público para tirar o pé da lama. É considerado superendividado quem deve mais do que a soma do próprio patrimônio. Cinco estados mantêm serviços especializados para assessorar os brasileiros que se entusiasmaram com o crédito fácil e os juros baixos e foram surpreendidos por imprevistos como perda do emprego, separação conjugal ou doença na família.
O Rio de Janeiro foi pioneiro ao criar a Comissão Especial de Proteção e Defesa do Consumidor Superendividado há seis anos. No ano seguinte, foi a vez de o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul iniciar o projeto Tratamento das Situações de Superendividamento do Consumidor. A partir de 2010, as iniciativas se espalharam pelo país. Em maio do ano passado, o Tribunal de Justiça do Paraná iniciou o mesmo projeto. E, em 2011, São Paulo e Pernambuco também partiram para a assistência a quem não consegue pagar as dívidas aos credores.
O funcionário público carioca Vítor Hugo Barbosa Vieira, de 38 anos, é um superendividado. Com 15 empréstimos consignados contratados desde 2006, ele passou a sobreviver com o que restava do salário de 2 000 reais no mês: 300 reais. “Saí do controle quando perdi o segundo emprego e minha mulher deixou de trabalhar quando meu filho nasceu”, diz. Hoje, ele deve 28 000 reais e os juros ficam em 3% ao mês. Afogado pelas dívidas, em outubro do ano passado Vítor procurou o Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon), no Rio de Janeiro.
No mês seguinte, participou da primeira audiência de conciliação com os credores. Ele fechou um acordo com seu principal credor, a quem devia 12 000 reais entre faturas atrasadas de cartão de crédito e empréstimos bancários. Na audiência conciliatória, o valor caiu para 7 200 reais, divididos em 36 parcelas mensais de 200 reais. Vítor tem o perfil básico do superendividado: são pessoas que obtêm crédito fácil e, sem uma reserva de emergência, não conseguem pagar a dívida quando surge uma eventualidade.
Dos 300 superendividados inscritos no projeto piloto de São Paulo, metade tem até 40 anos, pertence às classes A e B e está trabalhando. “As pessoas não pagam porque não sabem se planejar e não sabem o que são juros compostos”, diz Vera Lúcia Remedi Pereira, do Procon-SP. Além disso, são poucos os meios para renegociação de dívidas. Na França, há regras que permitem a recuperação do devedor por meio do reescalonamento de pagamentos e diminuição dos juros.
No Brasil, as ações são tímidas, o caminho é procurar o serviço gratuito prestado pelos defensores públicos, juízes dos tribunais de Justiça e Procons. A renegociação da dívida é feita em audiências coletivas e os prazos de pagamento variam entre 24 e 36 meses. O acordo é homologado por um juiz e vale como sentença, que, se não for cumprida, é executada pelo credor. As emoções têm influência poderosa nas finanças (veja quadro O Que Não Fazer). De cada dez superendividados, pelo menos um pode ter distúrbio emocional.
“Sem tratamento médico, não dá para ficar longe das dívidas”, afirma a psicóloga Tatiana Filomensky, do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (Amiti), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
O que não fazer
Conheça os comportamentos que devem ser evitados quando for negociar com os credores
Emoção à flor da pele
As emoções devem ficar de fora da mesa de negociação ao falar com os credores.Coloque sua situação financeira numa planilha. Se preciso, peça a ajuda de um especialista. Pode ser o gerente de seu banco. Discuta com ele eventuais saídas para seu caso. Tendo isso em mãos, a negociação ficará mais fácil.
Cuidado com a ancoragem
Quando uma das partes (credor ou devedor) menciona uma quantia, ela passa a ser um ponto de referência, que vai nortear toda a negociação. Tenha em mente que o valor não é definitivo.
Não seja "otimista"
O otimista acredita demais em si mesmo. Para ele, força de vontade e trabalho são suficientes para o pagamento das parcelas negociadas. É preciso considerar os imprevistos.
Olho nos detalhes
O superendividado pode fechar um acordo sem considerar todos os detalhes e depois não conseguir pagá-lo. Evite negociar às pressas.
Calculadora mental
As pessoas se lembram apenas dos valores que entram na conta bancária (remuneração e 13o salário, por exemplo) e se esquecem das despesas do orçamento doméstico (tarifa do ônibus, impostos, aluguel, supermercado, farmácia). É preciso contabilizar tudo.
10 Sinais para saber se você é um consumidor compulsivo
1 - Fica preocupado excessivamente em ter coisas novas
2 - Realiza compras para fugir dos problemas
3 - Compra itens desnecessários com frequência
4 - Fica inquieto, irritado e ansioso quando não adquire algo
5 - Se sente culpado após a compra
6 - Faz compras sozinho para evitar críticas
7 - Esconde os produtos adquiridos
8 - Omite o preço real dos produtos para quem pergunta
9 - Relações familiares, profissionais e sociais são prejudicadas pelo hábito de comprar
10 - As dívidas aumentam
Fonte: você s/a
Nenhum comentário:
Postar um comentário